quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

FAZENDO POESIA de Lisélia de Abreu Marques


MERGULHAR NAS ÁGUAS DE UM POEMA

Mergulhar nas águas de um poema é mais do que uma benção,
é poder viajar sem estradas e sem horários
pelo mundo do imaginário,
é viver sem medo do anoitecer,
brincando, livremente, com as fadas da imaginação.
É se distanciar para sonhar e encontrar a realidade,
pois toda poesia leva o poeta a viajar por dentro de si mesmo
na ânsia de encontrar o caminho de libertar a própria expressão e,
quando, enfim, encontra este seu caminho, já leve, liberto,
ele desliza pelo verbo e
descansa magicamente
na palavra.

DIAS DE SOL E DIAS DE CHUVA

Não espere me encontrar todo dia igual.
Tenho dias de sol e dias de chuva.
Quando os dias são de sol, sou radiante, segura, perfumada e feliz.
Piso confiante a terra que me acolhe e
rio o riso aquecido de otimismo.
Já nos dias de chuva, choro.
Choro lágrimas de solidão;
Choro com o coração apertado
pela pequenês do alcance da minha imaginação.
Não espere me encontrar todo dia igual,
pois há dias de sol e dias de chuva.
E, muitas vezes, são estas lágrimas
que regam as raízes do girassol que brota em minh'alma.

O TAMANHO

Crescer, crescer até chegar ao céu
e de lá olhar e se sentir só, só entre tantos
e querer se sentir pequeno para de novo ter colo e carinho e
alguém para dizer que nos ama
quando nos sentimos frágeis e sensíveis.
E no sonho de ser grande não achar a essência e
na pequenêz não achar a força;
então pedir, primeiro baixinho, depois com os olhos,
tentar dizer com o coração
e ter esperança de que alguém vai ouvir e ajudar
a não ser tão grande que se perca,
nem tão pequeno que não se firme,
a achar a medida exata
para ser apenas
gente...

HOMENS LATINOS

Rostos agonizantes
Histórias sofridas
De povos outrora vibrantes
Agora oprimidos
Agitam bandeiras
Soam hinos
São homens latinos

SE

O te querer e o não te querer me tomam de assalto
cada vez que te vejo passar todo faceiro
a me sorrir aquele riso gostoso
e aí eu finjo muito mal fingido que não me importo e
que quando olho pro teu lado não é você que quero ver.
Mas, é impossível ignorar este moço bonito que passa e me perturba
e simplesmente fazer de conta que não toca, que não mexe.
Numa última tentativa para disfarçar, volto ao meu caderno
e escrevo palavras que não consigo entender,
pois minha mente vaga longe imaginando como seria se o
"se" não fosse apenas uma conjunção condicional
e de repente se tornasse realidade tudo o que se imagina:
se você me notasse ...
se você me quisesse ...
se você se entregasse ...
se ...
se ...
se ...

NAVEGADOR ERRANTE

Tua alma errante, sem lar e sem destino,
por momentos aporta, quase sem querer, no cais do meu carinho.
Sem âncoras, sequer baixas as velas onde sopram, sempre,
os ventos de outros portos e
o perfume de outras mulheres.
Onde o mistério das possibilidades sopra a te chamar infinitamente.
Neste cais tua alma encontra a minha,
conheço teu cheiro e sabes meu nome.
Em silêncio, tocas onde os meus segredos dormem,
e me tens vagando, entregue, de olhos fechados
tendo por recompensa, o prazer de te ter por apenas um momento,
talvez infinito, talvez saudade, o momento
eternizado
no exato instante
em que te amei.

O ENCONTRO

O destino se encarregou de colocar-me ao teu lado,
o amor me deixou com vontade de nunca mais sair daqui.

QUAL QUER?

-" Qualquer dia te ligo." ele disse.

E eu resmunguei:

Qualquer dia te ligo,
Qualquer dia te vejo;
Qualquer dia te amo...

Qual quer?

Qualquer dia?
Qualquer coisa?
Qualquer vida?

Eu não!

DESCALÇA

Descalça, na areia da praia, marquei meu caminho.
Rumava ao sol,
Deixava o solitário ninho.
No caminho do riso me lancei,
Lembrei teu sorriso e chorei.
Vou só,
trilhando caminho que não trilhei,
espalhando o bem que não espalhei,
tentando esquecer este amor
e o homem a quem amei.

LEMBRANÇAS PERDIDAS

Você é como as lembranças perdidas,
um dia disse adeus e a elas se juntou.

HOJE EU QUERIA SER EU

Hoje eu queria ser mais alta, ter pernas longas,
bem torneadas e bronzeadas.
Queria ter um cabelo castanho
longo o suficiente pra chegar na última costela, que brilhasse e
se mexesse como os cabelos dos comerciais de shampoo.
Queria ter lábios grossos e olhos amendoados e misteriosos.
Queria usar um vestidinho preto curto e esvoaçante com alcinhas,
uma sandália alta e ser toda perfeita, numa morenês irresistível.
Hoje queria me sentir outra.
Esquecer quem sou e me sentir livre,
mais leve, mais jovem, sem me vigiar, ordenar ou cobrar.
Hoje queria ser diferente. Queria acreditar na magia.
Me embriagar de sonhos e viver cada fantasia
como se fosse a mais perfeita realidade.
Hoje eu queria ser eu.

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