terça-feira, 4 de dezembro de 2007

LUTANDO COM A VIDA de Lisélia de Abreu Marques

Tô aqui sofrendo, tá doendo e não passa. Quando as coisas não acontecem como eu sonho, planejo, espero que aconteçam, eu sofro. Eu sintonizo aquela estação de desesperança e dor. Coloco aqueles óculos de lentes cinzas e arrasto as minhas correntes como uma alma penada num castelo mal assombrado. Não porque eu queira sofrer, mas porque dói. A dor acontece quando o que eu queria que fosse bate de frente com a realidade que não é como eu queria que fosse e sim como ela é mesmo. A dor é a tensão entre estas duas forças em choque, em luta. Estou sofrendo porque queria que a vida fosse toda certinha do jeito que eu acho que ela deveria ser. Só que a vida não é. Mas eu não aceito que a vida seja diferente do que eu quero que ela seja. Continuo querendo que a vida seja do meu jeito. Aí eu meço forças com a vida. A força do meu querer contra a força da vida. Quem será que é mais forte, o meu querer ou o querer da vida? É óbvio que a vida, a realidade é mais forte que o meu querer, então eu me revolto, eu me desgasto, eu suo, eu sofro. Eu sei que há coisas que dependem de mim e eu posso fazer acontecer e que há outras coisas que não. Sei que não posso fazer ninguém me amar ou estudar ou mudar de vida. Não posso fazer ninguém largar um vício ou pensar diferente do que pensa. Só a própria pessoa tem este poder. Então eu me deparo com a minha própria impotência e me sinto vulnerável, sem forças para forçar a vida a ser como eu quero que ela seja. Sinto que a vida é a mais forte e eu a mais fraca. A vida lá fora vence e eu, aqui, perco. Aos vencedores à vida, aos perdedores, à morte. Acaba tudo virando uma enorme questão de vida ou morte e eu não posso perder, eu não posso morrer. Então eu parto pra uma luta corpo a corpo com a vida.
Todo mundo sabe que a força com que a gente empurra a parede é a mesma força que a parede imprime de volta na nossa mão. Então quanto mais eu bato na parede, mais a minha mão se arrebenta e dói. O tanto que eu bater na vida é o tanto que eu vou apanhar dela. O tanto que eu relaxar com a vida é o tanto que a vida vai relaxar comigo. O tanto que eu acarinhar a vida vai ser o tanto que ela vai me acarinhar de volta. Então, se eu tô aqui sofrendo é porque estou forçando a minha vontade sobre a vida, querendo dobrá-la custe o que custar. Sendo assim, só me resta então relaxar e baixar a guarda. Eu até posso entender isto. Uma coisa é entender, a outra é querer. Eu entendo que malhar faz bem, mas e daí? Eu até entendo que não posso forçar a vida ou os outros a fazerem a minha vontade, a realizarem os meus desejos, mas como parar de querer isto? Só consigo imaginar um jeito: Se curvando à realidade. Aceitando que há coisas que eu não posso ter do meu jeito. Essa é a realidade e, a menos que eu esteja perdendo a razão e vendo tudo distorcido, é assim que é.
Esta situação me lembra a Oração da serenidade, é bem isto, nela ora-se: Deus, dê-me serenidade para poder aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar aquelas que posso mudar e sabedoria para distinguir umas das outras... Dá-lhe serenidade!!! Dá-lhe sabedoria!!! Ou melhor, dê-me serenidade e dê-me sabedoria. Amém.
Brasília, 04/12/2007.

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