segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LONGE DE CASA de Lisélia de Abreu Marques

Acho que a minha primeira pergunta foi: - Por que estou aqui? Não aceitava muito bem a idéia desta vida, deste planeta. Inconformada, não aceitava a idéia de viver aqui. Uma falta de pertencimento, uma nostalgia de algum lugar que não lembro, mas sinto que me é caro. Fui por muito tempo uma estrangeira neste planeta. Às vezes, ainda sinto isto na alma. Por que eu? Por que aqui? Por que agora? Toda a minha vida estas perguntas pairaram sobre mim como fantasmas. Eu procurava as respostas, mas não sabia onde encontrá-las, nem quais eram as perguntas corretas a se fazer.
Vaguei batendo de porta em porta do conhecimento. Contava com a minha inteligência, com a minha persistência e com esta fome de respostas que não me deixava parar de procurar.
Um engano me fazia estudar cada vez mais, o engano de acreditar que a minha fome fosse ser aplacada por um conhecimento que viesse de fora, acreditava que as respostas estavam lá fora e eu iria encontrá-las. Às vezes estudava à exaustão. Mas acho que a minha fome, no fundo não é só de conhecimento, é de alegria. Não ter aceitado, de coração, estar neste mundo talvez tenha aumentado uma angústia que parecia sem fim.
Eu acho que agora entendo porque e pra que eu vim e o que tenho que fazer aqui. Mas meu coração ainda não aceitou estar longe de casa, de uma casa que não sei onde fica, nem como é. Ele sente saudade de um lugar que não lembro, de um povo que desconheço e de uma paz há muito perdida.
Brasília, 03/12/2007.

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