quarta-feira, 5 de março de 2008

MULHERES de Lisélia de Abreu Marques

Quando os homens partiram para a II guerra mundial, as mulheres foram pras fábricas, foram pras lojas, foram pros escritórios assumir as vagas deixadas pelos combatentes e desde então começaram um segundo turno de trabalho que já dura mais de meio século.
O mundo dos negócios era dos homens e pra ganhar o jogo muitas mulheres entraram fundo neste jogo. Ativaram as suas qualidades masculinas e deixaram de lado qualidades femininas que poderiam demonstrar “fraqueza”. Nesta investida no mundo dos negócios, muitas mulheres anularam uma parte importante de suas vidas, muitas, ainda hoje, deixam a maternidade pra depois e aí precisam do auxílio da ciência para gerar seus filhos.
Mulheres que se comportam como homens, que assumem papéis masculinos, que pensam como homens; mulheres que temem e se envergonham do feminino. Um número cada vez maior de lares tem como chefe de família uma mulher. Mulheres, que por força das circunstâncias, fazem o que podem para criar seus filhos sem pai.
Tem sido difícil para as mulheres, como sempre foi, mas em outros momentos da história, as mulheres sofreram agressões de fora pra dentro. Desta vez é mais sério. Muitas mulheres adotaram valores masculinos e abandonaram valores femininos, num movimento de auto-negação. Continuam mulheres por fora, mas sentem como homens, pensam como homens. Não estou me referindo à opção sexual. Estou me referindo à atitude em relação à vida.
O resgate dos valores femininos, da postura feminina diante da vida parece um pensamento vago, afinal de contas quem lembra destes valores? Como se manifesta o poder do feminino? Que poder é este? Como seria o mundo habitado por mulheres, que pensam como mulheres e sentem como mulheres todo o tempo? Quem são as mulheres afinal? Quem somos nós?
Mulheres que nasceram durante este movimento pós guerra, que não conheceram uma realidade diferente ficam com estas perguntas fazendo eco, sem respostas. Como era o mundo feminino antes de nós? Antes de sairmos de casa para trabalhar fora? Alguns livros, algumas tradições nos falam de mulheres que se reuniam pra trabalhar e conversar. Mulheres que ouviam e aprendiam umas com as outras como cuidar, como amparar, como criar, como movimentar a vida. Velhas mulheres que davam suporte às jovens, jovens que ouviam, atentas, os conselhos das demais. Mulheres ensinando a outras mulheres a arte de ser mulher. As mulheres têm isto, ouvem, falam, sentem, choram juntas. Às vezes todas ao mesmo tempo. O trabalhar juntas, em grupo, a comunicação, a empatia, o amparo são qualidades femininas. Mulheres gostam da companhia de outras mulheres e do sentimento de inclusão que isto traz. Mulheres gostam de falar de si, dos seus filhos, das pessoas que amam. Mulheres gostam de compartilhar, compartilhar receitas, compartilhar experiências, compartilhar colo, compartilhar amor. Mulheres gostam de amar e de serem amadas, gostam de família, gostam de beleza, gostam de aconchego. Mulheres gostam de coisas bonitas, de coisas delicadas, de coisas perfumadas. Mulheres gostam de gestos de amor.

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