terça-feira, 10 de junho de 2008

VIVA A MORTE de Paulo Angelim

“A maioria das pessoas teme a morte por não ter feito algo de suas vidas.” Peter Ustinov

EU SEI QUE O TÍTULO deste capítulo pode parecer estranho, sombrio e nada motivador — principalmente se considerarmos que meus textos, via de regra, têm o propósito de elevar o estado de espírito das pessoas. Mas não tema, pois o propósito é exatamente este: quero mostrar que todos os nossos tabus sobre este tema, a morte, são um grande equívoco, e que, na verdade, deveríamos mudar nossas perspectivas a respeito do assunto. A lógica é bastante simples, objetiva e acessível: aqueles que desejam evoluir em todos os aspectos da vida precisam aceitar a idéia de lidar com a morte, por mais imprevisível e inexorável que seja.Primeiramente, repare que a primeira idéia que provavelmente veio à sua mente diante da palavra “morte” foi seu significado básico, qual seja, a ausência de vida. É bem possível que você tenha pensado em hospital, caixão, velório, enterro, família em prantos etc. Nossas mentes já estão de tal forma condicionadas a pensar negativamente diante da morte que imediatamente remetem ao momento no qual definitivamente deixaremos este mundo.Porém, não é a este tipo de morte que me refiro neste livro — até porque há outros tipos de morte. É verdade. E vou mais além: digo a você que precisamos morrer todo dia! É isto mesmo. A morte é uma passagem, uma transformação. Não existe planta sem a morte da semente. Não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma. Não existe borboleta sem a morte da lagarta.A morte é o ponto de partida para o início de algo novo, de um novo estágio. É a fronteira entre passado e futuro. Se você começar a pensar dentro desta perspectiva, verá que a palavra “morte” já não causará tanto desconforto, e poderá buscá-la mais facilmente. Você leu corretamente: defendo que nossa relação com a morte deve ser tão harmônica a ponto de buscarmos morrer em alguns aspectos de nosso ser para que possamos alcançar estágios mais evoluídos de desenvolvimento. Vejamos alguns exemplos.- Quer ser um bom universitário? Mate dentro de você o secundarista aéreo que pensa que ainda existe muito tempo pela frente, e que planejar o futuro é perda de tempo.- Quer ser um excepcional profissional? Mate dentro de você o universitário descomprometido e avesso às responsabilidades, que acha que a vida se resume a estudar só para fazer provas e entregar trabalhos.- Quer ser um excelente marido ou uma ótima esposa? Mate dentro de você o solteiro que pensa poder fazer planos sozinho, sem ter de dividir espaço, projetos e tempo com mais ninguém.- Quer ser um líder bem-sucedido? Mate dentro de você o subordinado egoísta que pensava na liderança como o momento em que o mundo passa a girar a seu redor. Enfim, todo processo de evolução exige que matemos o nosso eu passado, inferior. Se não agimos assim, corremos o risco de tentar ser duas pessoas ao mesmo tempo, perdendo o foco, comprometendo a produtividade e, por fim, prejudicando o sucesso. Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram, ao invés de se projetar para o que serão ou desejam ser. Elas querem o novo posto, o novo degrau, sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam. Com isso, transformam-se em projetos inacabados, híbridos, adultos infantilizados.
Paulo deixou-nos uma bela lição em I Coríntios 13:11: “Quando eu era criança, falava, pensava e raciocinava como criança. Mas quando me tornei homem, meus pensamentos se desenvolveram muito além dos pensamentos da minha infância, e agora eu deixei as coisas de criança”. Ou seja, é possível que, vez por outra, nossas ações sejam infantis — no melhor sentido da palavra —, de tal forma que não matemos virtudes próprias dos tempos de criança, como a vontade de brincar, o sorriso fácil, a vitalidade, a criatividade e assim por diante. Mas se quisermos ser adultos, devemos necessariamente matar a criancice — neste caso, no sentido negativo.Quer ser alguém (um profissional, uma mãe, um cidadão, uma estudante, um amigo) melhor e mais evoluído? Então pense nas coisas em você que precisam morrer ainda hoje para que nasça aquilo que você tanto deseja ser. Pense nas palavras de João 12:24: “Eu devo morrer como um grão de trigo que cai dentro da terra. Se eu não morrer, ficarei sozinho — uma semente isolada. Porém a minha morte produzirá muitos novos grãos de trigo — uma abundante safra de novas vidas”.
Pense nisto... e morra! Mas não esqueça de nascer melhor ainda!
Extraído do livro Morra e Mude de Paulo Angelim: http://www.pauloangelim.com.br/livro3.html

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