sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

RELIGIÃO: CONSUMO de Frei Beto



A Young & Rubicam, uma das maiores agências de publicidade do mundo, divulgou a lista das 10 grifes mais famosas: Coca-Cola, Disney, Nike, BMW, Porsche, Mercedes-Benz, Adidas, Rolls-Royce, Calvin Klein e Rolex.
A Fitch, consultoria londrina de design, no ano passado realçou o caráter divino dessas marcas, assinalando que, aos domingos, as pessoas preferem o shopping à missa ou ao culto.

Em favor de sua tese, a empresa evocou dois exemplos: desde 1991, aproximadamente 12 mil pessoas celebraram núpcias nos parques da DisneyWorld, e estão virando moda os féretros marca Halley, nos quais são enterrados os motoqueiros fissurados em produtos Halley Davidson.

A tese não carece de lógica. Ainda engatinhando, a Revolução Industrial descobriu que as pessoas não querem apenas o necessário. Se dispõem de poder aquisitivo, adoram ostentar o supérfluo. A publicidade veio ajudar o supérfluo a impor- se como necessário.

Se chego à casa de um amigo de ônibus, meu valor é inferior ao de quem chega de BMW. Isso vale para a camisa que visto ou o relógio que trago no pulso. Não sou eu, pessoa humana, que faço uso do objeto. É o produto, revestido de fetiche, que me imprime valor, aumentando a minha cotação no mercado das relações sociais.

O pecado original dessa nova religião é que, ao contrário das tradicionais, ela não é altruísta, é egoísta; não favorece a solidariedade, e sim a competitividade; não faz da vida dom, mas posse. E o que é pior: acena com o paraíso na Terra e manda o consumidor para a eternidade completamente desprovido de todos os bens que acumulou deste lado da vida.



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